Após quase 10 anos em recuperação judicial, a Ecovix, uma das maiores empresas do setor naval no Brasil, conseguiu encerrar oficialmente o processo e retomar sua atuação com mais estabilidade. Em julho de 2025, a Justiça do Rio Grande do Sul reconheceu que a empresa cumpriu todas as obrigações previstas no plano aprovado pelos credores e, por isso, decretou o encerramento da recuperação.
O caso chama atenção não só pelo tempo que levou, mas principalmente porque mostra que, mesmo em cenários complexos e de grande endividamento, é possível, sim, se reerguer. Mais do que um desfecho jurídico, é uma história que pode inspirar empresários e empresárias que hoje enfrentam dificuldades financeiras.
A recuperação judicial é um instrumento previsto na Lei nº 11.101/2005 e foi criada justamente para ajudar empresas em crise a reorganizarem suas dívidas e evitarem a falência. Quando todas as partes estão empenhadas, a empresa ganha tempo para negociar com credores, suspende temporariamente as cobranças e segue operando, com o objetivo de manter empregos, contratos e sua função social. Mas esse caminho exige planejamento, organização e apoio técnico. E, principalmente, paciência.
No caso da Ecovix, o processo envolveu mais de R$ 7 bilhões em dívidas, ativos industriais de grande porte e negociações com diversos credores. Além disso, o setor naval passou por um período de estagnação nos últimos anos, o que dificultou ainda mais a retomada. A empresa também enfrentou disputas judiciais, tentativas de venda de ativos e obstáculos ambientais. Mesmo assim, com o passar do tempo, a reativação do setor naval, impulsionada por políticas públicas e investimentos na construção marítima, ajudou a empresa a retomar suas atividades e a cumprir o plano de recuperação aprovado.
Em 2025, a Ecovix deu outro passo importante: assinou contrato com a Transpetro, subsidiária da Petrobras, para construir quatro navios da classe Handy[1]. Esse projeto, com início previsto ainda para este semestre, deve gerar cerca de 1.400 empregos no pico das obras e envolver investimentos da ordem de 278 milhões de dólares. Além disso, a empresa já se prepara para disputar novas licitações com a Petrobras e outras empresas do setor, aproveitando a retomada das atividades na Bacia de Pelotas, que apresenta características geológicas semelhantes às da costa da Namíbia, considerada promissora para a exploração de petróleo. Esses movimentos mostram que, mais do que encerrar um ciclo judicial, a Ecovix está em plena transição para uma nova fase de crescimento operacional e estratégico.
Na sentença que encerrou o processo[2], a juíza Fabiana Gaier Baldino, da 2ª Vara Cível de Rio Grande/RS, reconheceu que a empresa demonstrou empenho e seriedade na execução do plano, mantendo suas atividades e reorganizando suas finanças. Para o Judiciário, a Ecovix está pronta para seguir em frente de forma autônoma e responsável, sem necessidade de supervisão judicial. Esse reconhecimento mostra que a recuperação judicial, quando bem conduzida, pode ser uma solução viável e não apenas um adiamento do inevitável.
Ainda que cada caso tenha suas particularidades, o processo da Ecovix ensina lições valiosas. Um plano de recuperação precisa ser realista e compatível com a situação da empresa. Promessas exageradas só comprometem a credibilidade e colocam em risco a continuidade do negócio. A transparência com credores e com o Judiciário também é essencial para manter a confiança no processo. Além disso, contar com profissionais especializados faz toda a diferença. E, claro, é preciso ter consciência de que os resultados não aparecem do dia para a noite. A recuperação judicial é um processo longo, que exige resiliência e comprometimento.
Para empresas que estão enfrentando dívidas e crises, o encerramento da recuperação judicial da Ecovix mostra que existe luz no fim do túnel. Muitas vezes, empresários adiam a busca por soluções por medo ou falta de informação. Mas a verdade é que a recuperação judicial é uma ferramenta legal, segura e que pode representar um novo começo, desde que usada de forma estratégica, com apoio técnico e no tempo certo.
A história da Ecovix mostra que recomeçar é possível. Mesmo após quase uma década de incertezas, a empresa conseguiu se reorganizar, manter suas atividades e cumprir seu plano. Para quem está vivendo um momento difícil, fica a mensagem: com orientação, planejamento e coragem, há caminhos possíveis para superar a crise.
[1] NOGUEIRA, Marta. Ecovix encerra recuperação judicial após 9 anos e mira novos contratos. Reuters/UOL Economia e Negócios, 24 jul. 2025
[2] Sentença proferida em 22/07/2025 – Disponível nos autos do processo nº 5000021-98.2016.8.21.0023 – https://www.conjur.com.br/wp-content/uploads/2025/07/Decisao-RS-Fim-de-Recuperacao-Judicial-Ecovix.pdf
Mayara Cristina de Souza Leite, estagiária de Direito (9º semestre – FMU) e integrante da equipe no Yuri Gallinari Advogados.